Textos de opinião sobre temas diversos relacionados aos ambientes de saúde. Clique nos títulos para conferir!
Muitos perguntam por que o Ministério da Saúde, e em particular a ANVISA, publicam normas sobre planejamento físico, e por que eles obrigam a população a segui-las. A razão é simples, cabe a estes órgãos proteger a saúde da população.
Na elaboração de uma norma, estes órgãos utilizam como parâmetro aquilo que já foi testado e "aprovado" na prática, com a observação sistemática de evidências. Raramente se normatiza algo experimental, para "ver se funciona". Portanto, quando se utiliza com parâmetro uma norma oficial, se está implementando métodos que foram largamente utilizados, aperfeiçoados, analisados e avaliados, com resultados amplamente conhecidos, que sabidamente contribuem para a qualidade e a segurança. Na realidade, trata-se de uma transferência e disseminação de conhecimento científico, por parte dos órgãos normatizadores. Com a normatização, o risco de insucesso na produção de um novo produto ou na implantação de uma nova unidade torna-se mais baixo, fazendo com que vidas sejam poupadas, custos sejam reduzidos e os ambientes sejam mais produtivos.
O uso de normas traz também vantagens na medida em que diminui os riscos de infecção e de acidentes advindos de panes elétricas, da falta de energia ou de gases medicinais, etc. Ter que obedecer uma infinidade de normas sem dúvida torna o processo de projeto mais complexo, e muitos acham que isso tolhe a criatividade dos arquitetos mas, no final das contas, o ganho de qualidade e segurança é muito grande, mesmo para os arquitetos, que terão na norma o apoio técnico para desenvolver soluções mais corretas e com menor risco para os usuários. Além do mais, um profissional criativo sabe, mesmo nas situações mais complexas e restritas, desenvolver soluções originais, inovadoras e com grande qualidade espacial.
Por fim, vale perguntar, quanto vale a vida humana comparada com o custo adicional advindo da obrigatoriedade de colocação de umas torneiras a mais, da adoção de um sistema de ventilação e de ar-condicionado correto, de corredores bem dimensionados e iluminados, etc.? Sem contar que o custo de fazer o certo desde o início é sempre mais barato do que o de consertar o errado, e nem sempre é possível corrigir completamente certos erros, principalmente em uma estrutura complexa como a de um hospital. O uso correto das normas certamente induz soluções de projeto mais simples, mais definitivas e, portanto, mais eficientes.
Autor: Flavio de Castro Bicalho. Fev. 2025.
O planejamento das redes de saúde e de seus estabelecimentos tem sido direcionado principalmente para o atendimento as demandas assistenciais programáticas, sendo ainda incipiente, quando se trata da prevenção aos efeitos dos desastres naturais, sejam os causados por forças externas ou pelas atividades humanas.
Importantes alterações climáticas vêm acontecendo em diversas regiões do mundo e em nosso país, as cidades estão cada vez mais suscetíveis às transformações nos padrões de temperatura e clima, com tempestades catastróficas, chuvas torrenciais, vendavais, secas intensas e tantas outras, causando transtornos como inundações, deslizamentos, incêndios severos, escassez de água e muitos outros problemas que afetam gravemente a vida da população.
Em que pese este quadro, observa-se que o potencial de desastres advindos da emergência climática ainda não é incluído de fato no planejamento dos estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS), deixando-os à mercê da própria sorte quando da ocorrência destes incidentes.
Em serviços de saúde qualidade e risco são indissociáveis!
Os regulamentos existentes tratam do planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos desses estabelecimentos, abrangendo a programação físico-funcional e os critérios para projeto. Mas quais instrumentos e ferramentas possuímos, em relação a qualidade da infraestrutura física dessas edificações, que possam afiançar ou minimizar os potenciais danos decorrentes de desastres naturais, garantindo o seu funcionamento?
Devido às características estabelecidas para as diversas tipologias de estabelecimentos de saúde, exige-se uma aprovação complementar de forma que o projeto atenda não só as exigências do código de obras do município, como também as normas do Ministério da Saúde/ANVISA e das Vigilâncias Sanitárias locais.
O contexto urbano em que localiza a edificação é tão importante quanto a própria edificação. Se faz necessário avaliar todas as condicionantes do terreno e seu entorno, de onde está ou será situado o estabelecimento, geográficas, ambientais e urbanísticas, abrangência e convergência ao Plano Diretor Territorial, para verificar as melhores condições de proteção dos EAS em situações de desastres naturais, tanto para redução de sua vulnerabilidade quanto no restabelecimento de seu pleno funcionamento.
Autora: Regina Barcellos Fevereiro, 2025
Em um estudo intitulado “Como os arquitetos utilizam a pesquisa” o Royal Institute of British Architects (RIBA) revelou que os principais escritórios de arquitetura ingleses consideram a pesquisa uma parte intrínseca do trabalho de projeto. Neste caso, a pesquisa é geralmente vista como aquela que abrange os aspectos relativos às necessidades do cliente, à avaliação do contexto do projeto, as características e desempenho dos materiais e componentes da construção e, mais recentemente, as questões de sustentabilidade ambiental e eficiência energética.
Enquanto universidades e outras instituições de pesquisa estão constantemente produzindo e publicando estudos sobre o tema, poucos são os profissionais que efetivamente baseiam suas decisões e escolhas projetuais em achados e comprovações oriundas das pesquisas científicas.
Mas como arquitetos e engenheiros podem se envolver e não apenas se beneficiar de iniciativas de pesquisa?
Existem atualmente mais de 1000 estudos publicados que comprovam que determinadas características adotadas nos projetos de estabelecimentos de saúde afetam diretamente os resultados, tais como diminuição do stress do paciente, a quantidade de erros médicos, a demanda por analgésicos, entre outros efeitos igualmente importantes. O primeiro passo, portanto, é buscar na literatura estudos válidos que proporcionem um quadro de entendimento acerca das características projetuais. Em seguida, devem ser realizados os chamados estudos de casos, tantos quanto forem viáveis, de forma a proporcionar a necessária base comparativa. Estas tarefas podem ser executadas de forma bastante facilitada atualmente, com o emprego de ferramentas de Inteligência Artificial, tais como o Chat-GPT e Deepseek, porém sempre caberá ao pesquisador ou pesquisadora a tarefa de interpretar os dados e utilizar os achados de forma criativa, buscando sempre novas soluções para os dilemas e desafios dos projetos.
Autor: Marcio Oliveira. Jan. 2025
A constante batalha pelo controle de infecção nos serviços de saúde possui dois fortes aliados na arquitetura e na engenharia. Várias são as técnicas que os arquitetos e engenheiros podem e devem adotar que contribuem para esta questão. O correto zoneamento e a categorização dos ambientes em áreas críticas, semi-críticas e não críticas, a adoção de barreiras físicas, controle de fluxo e qualidade do ar, padrões de circulação com fluxos corretos de trabalho, e a escolha criteriosa dos materiais de acabamento, são exemplos de algumas técnicas que, aliadas aos demais procedimentos médicos e de enfermagem, contribuem para que os índices de infecção de um estabelecimento de saúde se mantenham dentro das faixas consideradas aceitáveis.
Cabe ressaltar, no entanto, que soluções arquitetônicas equivocadas continuam a ser adotadas, com a justificativa do controle de infecção, porém sem qualquer resultado prático. São os chamados mitos da arquitetura hospitalar. Circulações exclusivas para "materiais limpos", por exemplo, é uma destas práticas equivocadas, que só oneram a obra e a manutenção do prédio. A ciência mostra que a melhor prevenção de infecção em serviços de saúde, advinda da circulação de materiais, é se tratar os elementos contaminados na fonte e fazer o transporte de material contaminado já acondicionado, corretamente, conforme a técnica adequada. Ou seja, a circulação de materiais contaminados pode cruzar com a de material esterilizado ou mesmo a do paciente, sem risco algum.
Outra dica é sobre a definição dos materiais de acabamento, item de grande importância no custo de construção e de operação. Ao selecionar os materiais, a equipe de projeto deve observar, além das questões de estética, acústica, durabilidade e custo, o desempenho do material quanto à absorção de água, visto que quanto menor a absorção, menor a possibilidade de proliferação de microorganismos. De uma maneira geral o que se deve buscar é adotar materiais que propiciem facilidade de higienização, materiais e que tornem as paredes, pisos, tetos e bancadas totalmente lisas, e que sejam resistentes e o mais impermeáveis possíveis.
Autor: Flavio de Castro Bicalho. Fevereiro, 2025.
A arquitetura de saúde é uma das especialidades mais complexas em termos de edificação, pois exige análise rigorosa de toda a estrutura do edifício e conhecimentos advindos da engenharia, da enfermagem e da área médica, entre outras, além de ter que observar os critérios e parâmetros da legislação vigente. Esta complexidade resulta em um grande desafio para os profissionais que atuam neste segmento, os quais precisam estar capacitados e constantemente atentos às evoluções da tecnologia.
Para que um edifício de saúde tenha um bom desempenho este deve ser pensado de forma integrada em seus diversos subsistemas, tais como as instalações e o sistema estrutural, por exemplo. As instalações têm ocupado espaços cada vez maiores e exigindo investimentos e atualizações constantes, em função da sofisticação e do crescimento das atividades de atendimento e diagnóstico. Ao elaborar o projeto arquitetônico, o profissional precisa ter uma boa compreensão de que as decisões tomadas na fase de planejamento de edifícios de saúde poderão refletir diretamente na sua vida útil, na determinação dos custos de construção e de manutenção.
O correto dimensionamento e distribuição da infraestrutura predial requer a consulta a normas e à literatura científica específica, compondo um material orientador sobre instalações prediais em estabelecimentos de saúde para ser utilizado durante a elaboração de projetos arquitetônicos e facilitar a previsão e dimensionamento dos espaços técnicos. As visitas técnicas a edifícios de saúde também são fundamentais para se obter resultados positivos na elaboração de um projeto de infraestrutura da saúde, possibilitando se verificar in-loco como se dão as diferentes interfaces, e visualizar como as soluções da arquitetura podem atrapalhar ou contribuir para a execução e a manutenção dos sistemas de infraestrutura predial.
Autora: Eliete de Pinho Araujo. Fev. 2025.
Edificações de saúde possuem requisitos especiais bastante peculiares, devido principalmente à natureza crítica de suas atividades. São edificações que devem oferecer ambientes que promovam não somente a segurança, o conforto e a eficácia dos serviços prestados, mas que também atuem no apoio à promoção e a manutenção da saúde de seus usuários. No entanto, muitas vezes, as edificações não atendem plenamente a esses requisitos, seja devido a falhas no projeto, na construção ou em sua operação. É nesse contexto que a Avaliação Pós-Ocupação (APO) pode se tornar uma aliada crucial.
Por meio dos estudos de APO, é possível identificar as evidências científicas, com as quais se pode entender melhor as diferentes necessidades dos usuários e interpretar os resultados para promover melhorias contínuas nos projetos dos ambientes de saúde. A APO tem uma função de promover uma interface de quem usa o ambiente físico com quem projeta e quem gerencia o ambiente físico. Além disso, a investigação do ambiente físico que faz parte do cotidiano dos indivíduos tem forte impacto no significado atribuído ao mesmo, proporcionando um sentido de lugar que, em última instância, se relaciona com a identidade do próprio indivíduo, e com o senso e o sentido que este tem da sua existência.
No Brasil e no mundo, diversos autores têm se dedicado a estudar e aplicar as lições advindas dos estudos de APO em projetos de novas edificações de saúde, contribuindo para o desenvolvimento de práticas mais eficazes e adaptadas à realidade local nas últimas décadas. Segundo a pesquisadora Patrícia Cavalcanti (UFSC) as necessidades e expectativas dos usuários de edificações de saúde tem sido objeto de estudo a mais de 3 décadas, sendo que nos EUA estes estudos por vezes são incorporados às exigências contratuais em licitações para projetos de reformas e ampliações de instituições de saúde, para que os resultados sirvam de orientação nas etapas de planejamento e projeto. Desse modo, segundo Cavalcanti, cria-se a perspectiva de que as edificações resultantes sejam mais eficazes na satisfação de seus usuários, já que as propostas de intervenção passam a centrar-se em seus próprios pontos de vista e percepções a respeito do ambiente.
Um estudo publicado em 2018 pelo Instituto de Arquitetos Britânicos (RIBA) mostrou que há um claro "apetite" por estudos da APO por parte de clientes dispostos a pagar pelo serviço, especialmente aqueles com uma participação a longo prazo num edifício e que tenham interesse em garantir que sua propriedade seja o mais eficiente possível em termos de utilização dos recursos. Segundo este estudo, organizações tanto do setor privado como do público estão cada vez mais interessadas em compreender como seus projetos estão funcionando e como eles podem ser melhorados. Este interesse é impulsionado pelo compromisso de longo prazo para conseguir melhorias no desempenho ambiental de um edifício, e assim reduzir custos de funcionamento e otimizar a saúde, o bem-estar e a produtividade de seus ocupantes.
No contexto brasileiro, onde a demanda por serviços de saúde é crescente e as edificações enfrentam desafios específicos, a APO emerge como uma prática essencial para garantir o adequado funcionamento desses espaços. A importância da APO em edificações de saúde no Brasil vem aumentando à medida em que estudos relevantes são desenvolvidos e divulgados, contribuindo para o avanço desse campo no país.
Autor: Marcio N. Oliveira. Jan. 2025
Em um artigo intitulado “Um novo paradigma do design para a saúde no planejamento hospitalar” publicado em 2006, o fundador da International Academy for Design and Health, Prof. Alan Dilani, defende que os processos da saúde podem ser reforçados e promovidos por meio da implementação de um design salutogênico, ou seja, aquele que incorpora em seu design soluções espaciais que colaboram para manter o bem-estar, e evitar aquelas que nos fazem mal.
As diretrizes para a criação de um design coerente com o chamado “projeto salutogênico”, defendidas por Dilani e outros autores, destacam principamente os seguintes fatores: Participação Social (provendo locais para encontros formais e informais); Controle pessoal (possibilitando a regulagem da iluminação artificial, luz natural, som, temperatura e privacidade); Restauração e Relaxamento (provendo ambientes tranquilos, iluminação suave, acesso à natureza e vista para a natureza).
Neste contexto, a saúde física poderia ser promovida por um design ergonômico e a saúde mental poderia ser promovida pelo controle pessoal e pela previsibilidade, bem como por elementos estéticos e simbólicos. Já a saúde social poderia ser promovida pelo acesso a uma rede de apoio social e pela participação dos usuários no processo do design.
Autor: Marcio Oliveira. Jan. 2025
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